Quando a Lealdade à Igreja se Torna Manipulação: Como Discernir Quando a Instituição Perdeu a Visão de Deus. A palavra “lealdade” soa bonita, nobre e espiritual, mas quando ela é usada fora do contexto da graça, pode se tornar uma arma de controle e muitos cristãos têm sido ensinados que permanecer fiel à liderança, mesmo diante de injustiças ou abusos, é sinônimo de fidelidade a Deus.
Essa ideia, presente em muitos púlpitos e, especialmente, difundida por livros como “Lealdade e Deslealdade”, tem levado pessoas sinceras a confundir submissão com silêncio, fidelidade com servidão, e honra com medo, mas o evangelho da nova aliança nos chama à liberdade, e não à obediência cega.
O que o livro “Lealdade e Deslealdade” ensina e onde está o perigo
O livro “Lealdade e Deslealdade”, escrito por Dag Heward-Mills, se tornou leitura obrigatória em muitas igrejas, especialmente em movimentos neopentecostais e estruturas fortemente hierarquizadas.
Em suas páginas, o autor defende que a lealdade ao líder e à instituição é o alicerce da prosperidade ministerial, e que a deslealdade é o maior pecado que um obreiro pode cometer.
Lógicamente, cremos sim que se está havendo uma deslealdade com um líder que está de acordo com o evangelho, não é abusivo, procura viver de acordo com a palavra de Deus, então sim, caracteriza um ato de rebeldia.
Em parte o livro busca promover unidade e compromisso, o que é algo bom, saudável e temos apoio nas escrituras, mas o problema é que ele mistura princípios de fidelidade bíblica com doutrinas de controle e medo, gerando um ambiente onde pensar se torna perigoso e discordar é pecado.
Algumas ideias recorrentes no livro são:
Que o líder é a principal voz de Deus na vida dos liderados. E o cuidado aqui é se o líder está ensinando o evangelho genuíno, não é abusivo, ou se o que está ministrando é controle.
Que questionar decisões é sinal de rebeldia, é claro que tem pessoas que questionam por rebeldia mesmo, no entanto, o líder precisa estar aberto a ser questionado por irmãos que não são de má índole também.
Que a lealdade deve ser provada através da obediência incondicional. Claramente é um comportamento de seita, pois é importante a obediência, desde que esteja apoiada nas escrituras, não em qualquer “revelação”.
Que quem sai da igreja ou discorda está debaixo de maldição ou fora da vontade de Deus. Sim, é fato que não congregar e sair por qualquer motivo é estar fora da vontade de Deus, porém se é um lugar de controle, medo, manipulação e carece do evangelho da graça, é necessário que saia deste ambiente.
Essas ideias não são coerentes com o evangelho da graça, elas distorcem a autoridade espiritual e colocam pessoas sob um jugo de medo e manipulação, em vez de libertar, aprisionam.
Quando a lealdade se torna manipulação
A lealdade genuína nasce do amor e da gratidão, mas a manipulada nasce da culpa e do medo, o problema não está em ser fiel à comunidade ou à liderança, e sim em transformar a lealdade em uma doutrina maior que o próprio evangelho.
O ensino de “Lealdade e Deslealdade”, quando aplicado sem discernimento, cria uma cultura onde:
As pessoas são ensinadas a “não pensar, apenas obedecer”.
O líder passa a ocupar o lugar de Cristo na consciência dos membros.
A graça é substituída por vigilância e controle.
O medo de ser chamado “desleal” cala os que percebem erros doutrinários ou abusos espirituais.
E quando o silêncio se torna virtude, o evangelho perde a voz.
Sinais de uma igreja que já perdeu a visão de Deus
O foco está mais na estrutura do que em Jesus.
A pregação é centrada em autoridade e submissão, não em graça e liberdade.
O medo de sair é maior que o amor de permanecer.
Há um sistema de lealdade humana, mas pouca comunhão espiritual.
As pessoas são medidas por utilidade, não por identidade em Cristo.
Questionar é tratado como rebelião.
Quando a instituição perde a visão de Deus, ela começa a se proteger de quem pensa, em vez de acolher quem cresce.
Fidelidade a Cristo não é deslealdade à igreja
O livro “Lealdade e Deslealdade” tenta construir um exército disciplinado, mas termina gerando uma igreja sem voz.
O evangelho, ao contrário, nos chama para sermos filhos livres, guiados pelo Espírito e não por sistemas humanos, a Bíblia ensina que devemos honrar nossos líderes, mas nunca idolatrá-los, Paulo era agradecido com todos que foram leais; mas ele pediu que todos seguissem Cristo.
A verdadeira lealdade é espiritual, não institucional, ela é guiada pela verdade, não pela hierarquia, tem base no amor, permaneça fiel à Palavra, mesmo que isso custe a aprovação de homens, a obediência que agrada a Deus é fruto da graça, não do medo.
Como construir uma lealdade sadia e equilibrada
Tenha Cristo como centro, a lealdade deve começar e terminar nEle, nenhum líder é voz maior que a palavra de Deus na sua vida, sirva por amor, não por obrigação, o amor liberta, o medo escraviza, mantenha um coração ensinável, não manipulável, pois a humildade aprende, mas a manipulação destrói, cresça em liberdade, o Espírito Santo te ensina a discernir e decidir, ame a igreja, mas não idolatre a instituição, a igreja é corpo, não império, o corpo saudável respira liberdade.
Quando é hora de sair
Se o ambiente já não coloca mais Cristo no centro, se a pregação te causa medo constante, barganhas e se a liderança exige obediência sem transparência, talvez seja hora de buscar um lugar onde o evangelho da graça seja o centro novamente.
Sair de uma igreja que perdeu a visão não é trair o Reino, é voltar a caminhar com o Rei, a lealdade verdadeira não nos prende, ela nos inspira a seguir a voz do Pastor, mesmo que o caminho seja novo.
Conclusão
Lealdade é linda, é uma benção e é bíblica quando nasce da graça, mas perigosa quando nasce da culpa e do medo. O livro “Lealdade e Deslealdade” tenta proteger a igreja da divisão, mas acaba criando um ambiente onde a obediência vale mais que o amor e o silêncio vale mais que a verdade.
O evangelho da nova aliança nos ensina o contrário, ele diz: Para a liberdade foi que Cristo nos libertou.
Não é deslealdade seguir a Cristo, deslealdade é permanecer onde Ele já não é o centro, a graça te convida à liberdade, à maturidade e à fidelidade, mas por amor.
Que o amor e a fidelidade nunca o abandonem; prenda-os ao redor do seu pescoço, escreva-os na tábua do seu coração. Então você encontrará favor diante de Deus e dos homens. Provérbios 3:3-4



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